terça-feira, 23 de outubro de 2007

ELISEU PADILHA PREPARA ESTADO PARA 2010



Revista Voto - outubro/2007*Revista Voto - Política e Negócios (outubro/2007)Os números do desempenho decrescente nas eleições municipais apontam que o PMDB gaúcho – de 158 prefeitos eleitos em 1996, quando Antonio Britto era o governador, para 138, em 2004, com Germano Rigotto ocupando o governo do Estado e tendo vencido apenas em uma cidade grande, Caxias do Sul – pode acabar substituindo o PP (antiga Arena e PDS) como partido forte nos grotões que vence em pequenas comunidades, mas não sensibiliza o eleitorado dos grandes centros. Inverter essa tendência e recolocar o PMDB junto à opinião pública como o grande condutor de transformações e com força para conquistar o poder é o desafio que se impôs o secretário-geral do diretório estadual, o deputado federal Eliseu Padilha, que toca o partido desde o afastamento, por licença do presidente regional Pedro Simon, em sintonia com o vice no exercício, o deputado Márcio Biolchi.A vocação executiva de quem traz a experiência de ex-ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso, secretário estadual do Trabalho e prefeito de Tramandaí ajudou o deputado a colocar em andamento, desde o início do ano, uma estrutura técnica e multiplicadora para formação política de quadros que movimenta desde o início deste ano. Candidatos a prefeito e vereador em 2008 terão obrigatoriamente de freqüentar os cursos da Fundação. No entanto, Padilha também sabe que o PMDB se enfraqueceu desde que os compromissos históricos da sua fundação, ainda como MDB, foram resgatados na anistia, nas eleições diretas e na redemocratização configurada na nova Constituição. Isso o levou a escrever pessoalmente o que chama de novas bandeiras, os temas através dos quais o PMDB irá se reapresentar à sociedade propondo a condução das questões sociais emergentes.Essa elaboração sintetiza 15 “bandeiras” num caderno chamado Programa Municipalista, no qual se destacam os temas trabalho e renda, participação popular, educação e conhecimento libertador, defesa do meio ambiente e da vida, pacto federativo, bem-estar da melhor idade, educação para o trânsito, participação dos jovens, e governo municipalista. Os resultados imediatos percebidos da aplicação sistemática do trabalho de organização como o PMDB nunca fez em sua história animaram o secretário-geral a oferecer o modelo ao diretório nacional, que o encaminhou para desenvolvimento pela Fundação Ulysses Guimarães em todo o País.Um dos resultados já colhidos pelo PMDB gaúcho foi o aumento das filiações para mais de 220 mil. A isso se soma o aumento do número de prefeituras para 142 com as adesões que culminaram, na última semana de setembro, com a volta de José Fogaça, que havia tirado o PT da prefeitura de Porto Alegre vencendo a eleição de 2004 pelo pequeno PPS, e que lidera as pesquisas de intenção de voto para sua reeleição. Se o PMDB ganhou de graça a maior prefeitura gaúcha, a da Capital, também o colocou na tarefa de justificar uma administração sem grande brilho que apenas integrava. Fogaça eliminou a expectativa de expressiva parcela do PMDB que entendia haver viabilidade de vitória e mais espaço para aplicação de um projeto próprio de governo indicando para vice da candidatura a prefeito a jovem-fenômeno Manuela D`Ávila, deputada federal do PCdoB.Na sede regional do PMDB, onde as paredes dos dois andares do prédio da avenida Farrapos da capital gaúcha foram limpas dos tradicionais cartazes de líderes partidários, até mesmo os do senador Pedro Simon, Eliseu Padilha falou para a revista VOTO do seu trabalho, do objetivo de eleger 200 prefeitos em 2008, 36 em grandes cidades, incluindo Porto Alegre, com a nova e inédita estrutura partidária que está sendo construída. Estrutura essa que, se funcionar, servirá também para o seu projeto pessoal para 2010, quando se candidatará ao Senado ou ao governo do Estado, confirmando que não irá a outra eleição para deputado.Revista VOTO – Com a licença do grande aglutinador do partido, o presidente regional Pedro Simon, que se afastou após a reeleição ao Senado, coube ao senhor reorganizar o PMDB gaúcho para as eleições municipais. Como isso está sendo feito na ausência de Simon? Eliseu Padilha – O licenciamento do senador Pedro Simon nessa hora foi um estímulo à renovação, valorizando o jovem deputado Márcio Biolchi. Mas, as bases intensificam essa interrogação, e ele já deu sinais de que vai voltar ao comando do partido. Ele esperava que essa transição fosse mais aceitável pela base partidária; no entanto, se constatou que não houve essa compreensão, e Simon tem confidenciado que está analisando o retorno.VOTO – Mas o senhor tem representatividade e está preparado para o trabalho.Eliseu Padilha – Sou um militante partidário. Eu sou o presidente nacional da Fundação Ulysses Guimarães e há muito anos sou dirigente do PMDB. Fui para a faculdade fazer Ciência Política porque entendi que o conhecimento teórico faz a diferença. Casualmente, este conjunto de propostas coincidiu com o que era o sonho do nosso líder maior, que é o Pedro Simon, o que era minha intenção pessoal, o sonho e a necessidade do partido de se organizar.VOTO – A provocação vem do adversário PP analisando o desempenho decrescente do PMDB nas eleições municipais. Aponta que, enquanto a antiga Arena se organiza para evoluir dos pequenos municípios agrícolas para os grandes centros urbanos, o antigo MDB faz o caminho inverso e vai limitar suas vitórias às prefeituras dos grotões. Eliseu Padilha – Primeiro, o PMDB não pode continuar caminhando rumo ao grotão, tem que fazer uma inversão nesta tendência de trajetória. Tem que voltar a ser um partido de grande inserção urbana, porque essa é a história do PMDB. O que falta é a inserção nos movimentos sociais. E isso só pode acontecer através do debate político e da formulação de propostas. Afinal, o MDB nasceu nos centros urbanos, onde o PMDB se fortaleceu, mas agora, tenho que reconhecer, acabou se enfraquecendo por falta de debate e por falta de ideário. Não se constrói partido onde a população tem participação mais forte na cidadania, sem propostas, sem idéias. Não há nenhum recurso que possa substituir a ideologia, não tem candidato simpático, não tem salvador da pátria, não tem personalismo que substitua o coletivo e o debate de propostas para a solução dos problemas da comunidade. Ou seja, isso só se faz com ideologia.VOTO – Na prática como isso acontecerá, considerando as eleições de 2008?Eliseu Padilha – Para aumentar a franquia nos centros urbanos, principalmente, é que nós criamos o Programa Municipalista de Governo do PMDB, com calendário de debates com a sociedade, principalmente com os movimentos sociais. O debate com os movimentos sociais é o atestado da presença e da vontade de permanência nos centros urbanos, sem deixar de valorizar nossa participação e franquia no campo, no Interior. Com vistas às eleições de 2008, já começamos a implementar algumas ações que consideramos vitais. Primeiro, o Curso de Formação Política com conhecimento teórico; em segundo, a realização do Curso de Formação de Candidatos, que terá início em 15 de março. A terceira ação é o próprio Programa Municipalista de Governo do PMDB. Isso é um trabalho que estava em desuso. Formulamos políticas administrativas. Eu mesmo escrevi a parte conceitual. Resgatei dez bandeiras tradicionais do partido e acrescentei mais cinco, que são: Meio Ambiente; Trânsito; Juventude; Terceira Idade e Novo Pacto Federativo. São temas do momento, a respeito dos quais faltam políticas. A Terceira Idade, por exemplo: no Rio Grande do Sul, o homem vive em média até 75 anos, aposenta-se aos 55, não tem o que fazer e também não há qualquer política voltada a esse segmento social. Não tem educação para o trânsito e no nosso plano de governo para os municípios está lá, tem que ter educação para o trânsito, porque no Brasil morrem 35 mil pessoas por ano, por causa de acidentes que ainda custam, também, R$ 28 bilhões e não há qualquer política de prevenção. Sobre o Meio Ambiente, estamos preconizando que exista um projeto de desenvolvimento sustentável para cada município. Em relação ao Pacto Federativo, a nossa proposta é que os recursos sejam descentralizados. Não dá mais para se admitir que o governo federal fique com quase todos os recursos e que municípios e estados tenham que peregrinar até Brasília, ficar de joelhos para mendigar um pouco de dinheiro. E, por último, a questão dos jovens, que sempre é o setor da sociedade que sonha com transformações. Já existe uma geração da internet, esse povo jovem tem muito a ensinar para os outros. A internet é uma língua diferente, forma diferente de comunicação, de administração. A internet mudou o mundo. Esse é um debate que já começamos nos 496 municípios do Estado.VOTO – Em que estágio está o projeto?Eliseu Padilha – Hoje, o PMDB tem mais de 12 mil alunos nos cursos e, nos últimos dias, novas 15 solicitações de abertura de turmas foram recebidas dos municípios. Temos feito reuniões regionais cobrando o cumprimento do calendário previsto para os cursos de formação política. O acompanhamento de todas as turmas é feito via nossas telefonistas, que repassam os 496 municípios mais de uma vez por semana. Claro que a conta de telefone aumentou. Quando as bases se sentem valorizadas e vêem que está sendo feito alguma coisa, há um envolvimento maior.VOTO – O projeto está limitado ao Estado?Eliseu Padilha – A Executiva nacional do partido já aprovou os nossos três programas, que serão os carros-chefes do PMDB em todo o Brasil. Pedimos para que os estados indiquem aqueles que ficarão responsáveis pela execução desses cursos através da Fundação Ulysses Guimarães, um coordenador para cada 250 mil habitantes. Sabemos que haverá estado que não será abrangido na totalidade ou os cursos ficarão restritos às capitais. Estamos deixando que cada unidade decida. Acredito que o conhecimento e o debate político sejam as únicas formas de acabar com o carreirismo político, inclusive no PMDB. Vamos ter uma mudança de quadros e de lideranças regionais. Formaremos uma nova geração de dirigentes nos estados. Isso vai demorar, mas vai acontecer. Só o conhecimento político pode melhorar a política.VOTO – O projeto estrutural do partido é para fazer surgir novas lideranças. E os atuais líderes?Eliseu Padilha – O verdadeiro líder não pode ter projeto pessoal, senão está fadado ao fracasso. Ele tem que ter um projeto coletivo, do partido. No momento em que não há o personalismo, o projeto passa a ser do partido. Sou experiente o suficiente para saber que holofote é foco para bombardeio e, como tenho projeto político para 2010 – não disputarei eleição proporcional, vou disputar eleição majoritária –, quanto mais discreta for a minha participação, mais eficaz será. Tenho mostrado ao partido que esses projetos permitem que cada militante se sinta um dirigente e que cada dirigente se sinta um militante. Com o tempo, as pessoas, especialmente os peemedebistas, ficarão sabendo quem esteve à frente deste processo. Ele é fruto da minha militância e da minha prática de fundador do MDB e do PMDB, mas corresponde por inteiro aos sonhos do tesoureiro Rospide Neto, das verdadeiras lideranças do PMDB e do senador Pedro Simon. Ele é o idealista desses projetos. O que aconteceu é que Rospide e Simon, embora querendo, não tinham na estrutura do partido condições para implementá-los.VOTO – Nesta organização do partido, o senhor está fazendo a hora do seu projeto de 2010?Eliseu Padilha – A hora para acontecer este projeto é agora, independentemente do que aconteça em 2010, quando eu posso decidir até não ser candidato a nada. Já avisei que não concorro a deputado, o cargo que tenho. Posso disputar a majoritária, que é o que eu quero, mas também posso não concorrer a nada. Outra hipótese é me converter em dirigente partidário, trabalhar num projeto nacional para o partido, como fiz na segunda eleição do presidente Fernando Henrique, quando fui cuidar de um projeto nacional do PMDB, não disputei eleição e fiquei sem mandato.VOTO – A política de alianças é apontada como fator dos resultados eleitorais decrescentes do PMDB. O senhor fala em vencer em 200 municípios no ano que vem, com destaque para os grandes centros. Isso significa que o partido não cederá a cabeça-de-chapa nas alianças? Eliseu Padilha – Nós selecionamos 36 colégios eleitorais, os mais importantes, onde vamos procurar dar uma assistência mais forte para o partido, quanto ao processo de decisão sobre candidatura própria ou de alianças. Nossa tese é a da candidatura própria. Se estamos formulando propostas de governo nos 496 municípios, é evidente que pretendemos disputar cabeça-de-chapa nos 496. Não sou ingênuo de achar que isso será observado por todo o partido. Cada diretório municipal é que vai dizer. Claro que nós não podemos intervir, a não ser quando os princípios mais claros não estiverem sendo observados. Podemos participar dessa discussão quanto à conjugação de interesses partidários, mas não em torno de interesses pessoais.VOTO – Em que grandes cidades gaúchas o PMDB possui nomes com boas chances de vitória para o ano que vem?Eliseu Padilha – Eu acho prematuro falar em nomes. Temos chance de ganhar em Santa Maria, São Leopoldo. A grande surpresa pode ser ganhar em Canoas. Vamos ganhar em Passo Fundo, agora que o Osvaldo Nascimento voltou para o PMDB. Lá, ninguém ganha do Osvaldo. Estamos negociando alianças, por exemplo, com o PTB sobre Viamão e Gravataí. As alianças devem ser feitas em toda a Região Metropolitana. Em Cachoeirinha, Pelotas, Erechim e várias outras cidades grandes, temos boas probabilidades de vitória. Vamos nos reeleger em Porto Alegre, Caxias e em Rio Grande.VOTO – Na Capital, quase que o PMDB sai como vice de Manuela D'Ávila, o que era considerado uma boa solução, até que o prefeito José Fogaça decidiu voltar ao partido. Pela grande exposição da política da Capital, será a campanha de Fogaça que dará o tom para o PMDB no Estado? Desde o início do ano, ele lidera as pesquisas, só ficando atrás de Olívio Dutra que o PT decidiu afastar da disputa.Eliseu Padilha – Em Porto Alegre, não há perspectiva de poder sozinho, em nenhum partido. Vai ser determinante a aliança. Se o diretório municipal entender conveniente, o diretório estadual vai acompanhar essa negociação. Temos uma gama de alternativas para a formação da aliança a partir do conjunto de forças que já existe em torno do prefeito Fogaça. Não penso que o personalismo deva ser cultuado. Nós (não?) pensamos que o presidente, o governador e o prefeito vão resolver tudo. Não é assim. Com a Constituição de 1988, os Conselhos passaram a ter mais força, poder e recursos do que o prefeito. A cidadania cresceu em importância. O mais importante é qual é o programa, qual o compromisso do partido com a comunidade. Isso vale para Porto Alegre e para todos os municípios do Rio Grande. Por enquanto, eu sei que falo quase que no deserto, mas no mundo desenvolvido é assim. O PMDB precisa se preparar para ser um partido de verdade. E o que vai fazer com que isso aconteça é o compromisso com a comunidade, o teor das propostas, soluções e o compromisso com a sociedade de que essas promessas e propostas serão cumpridas e executadas. A sociedade precisa ver e entender que os seus problemas serão resolvidos através dessas propostas. Não é um nome que irá dar a vitória ao PMDB. Tem que ser um projeto debatido com a comunidade e que mostre que as nossas lideranças terão condições de implementá-los. Não adianta oferecer a lua porque a comunidade sabe que não vamos entregar. Se isso não acontecer, podemos, inclusive, diminuir nosso percentual de votos. As soluções se constroem coletivamente. Não há salvador da pátria. Quando eles surgem, são circunstanciais e momentâneos. Não trabalho com a idéia de nomes, trabalho com a tese de idéias, de programas e de compromissos. O Fogaça em Porto Alegre, por seu estilo, personifica um pouco disso. Ele governa dando poder aos conselhos e aos partidos. Ele tem a cara do PMDB, que sempre foi o seu lugar, e o PMDB já estava na prefeitura da Capital.VOTO – O fato do presidente do Senado, Renan Calheiros, pertencer ao PMDB não fará os problemas éticos que enfrenta prejudicarem o partido nas eleições municipais? Eliseu Padilha – O caso Renan não traz nenhum efeito diretamente para o PMDB. Nas Alagoas, porém, o PMDB deverá sofrer uma reciclagem. Entendo que o PMDB passou ao largo, assim como o PT no caso dos 40 do mensalão, agora processados pelo Supremo. Se tivesse algum reflexo, o PT estaria acabado, sem dirigentes. O caso ficou personalizado ao senador.VOTO – O presidente Fernando Henrique ainda tem que se defender de 145 processos ativos na Justiça, a maioria deles movidos pelo PT. O senhor mesmo enfrentou acusações éticas. Eliseu Padilha – Enfrentar as acusações, sempre enfrentei de cabeça erguida, porque elas nunca tiveram consistência. Eram acusações com fins políticos. Não se amparavam em fatos. Se fizer uma pesquisa, se verá que de tais acusações não existe nenhum processo contra mim. Eu sempre enfrentei as acusações, mas nunca quis usar as mesmas armas para confrontar os adversários. Eu não acho que a política deve ser feita mostrando os defeitos dos outros, acho que a gente faz política demonstrando que tem propostas e soluções para os problemas da sociedade. Eu nunca deixei dúvida de que não tenho medo do confronto. Tive coragem para sustentar minha posição de independência e procuro mostrar que faço política de uma forma diferente, construindo soluções, mostrando as virtudes das propostas que defendemos.VOTO – O senhor tem negociado para as eleições municipais com vários partidos, até com os que o criticavam, como o PCdoB. Porém, não fala com o PT, embora o PMDB integre a base do governo Lula. Eliseu Padilha – São coisas diferentes. Dialogo com todos os partidos. As conversas preliminares com a Manuela foram uma imposição da situação de dirigente partidário. Em relação ao governo Lula e ao PT, nós, do PMDB gaúcho, somos independentes. Não trataríamos de aliança com o PT por coerência, também por respeito e consideração com o PT, porque apoiamos a candidatura de Alckmin. Nossa adesão seria de oportunistas, o que nunca fomos. E também não aderimos por preservação de nossa força política no Estado, porque se fôssemos nos aliançar, sucumbiríamos. O PT não faz aliança com ninguém, ele tem apoiadores. O governo do PT é um governo de adesão e não de coalizão. Se passássemos a ser adesistas, um apêndice do PT nacional aqui no Rio Grande, renunciaríamos a nossa posição de principal força política e de principal ator na cena política gaúcha.

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