segunda-feira, 16 de julho de 2007

PEDRO SIMON - NOSSO LÍDER - NOSSO GUIA!



Pedro Simon, Advogado e Professor Universitário, data de nascimento: 31 de janeiro de 1930. Tem pautado seu trabalho pela ética na política.



A eloqüência de Pedro Simon é conhecida. Foi na tribuna que ele passou a maior parte de seus 44 anos de vida pública: da Câmara dos Vereadores de Caxias do Sul ao Senado, onde está de 1978 até hoje, com exceção de um curto período como ministro da Agricultura de Sarney e de quatro anos no governo do Rio Grande do Sul. A lealdade é outro traço consagrado. Nunca mudou de partido – foi do PTB extinto pela ditadura ao “meu MDB”, como diz, ignorando o “P” acrescentado à sigla – nem abandonou seus princípios. Sua coragem e honestidade são reconhecidas até pelos adversários; quando o combatem é para abafar a verdade, como fez o governo FHC ao enterrar sua proposta de uma CPI das Empreiteiras, que desnudaria um dos principais focos da corrupção no país. Por isso, ao ouvi-lo dizer, nesta entrevista, “se o Lula der errado, vem um lunático, alguém ligado ao misticismo ou coisa que o valha”, dá até um arrepio. É a experiência que fala ou a revelação de mais uma virtude, a do profeta?

O alerta do senador
Entrevistadores: Natalia Viana, Marília Melhado, Débora Pivotto, Sofia Amaral, Palmério Dória, José Arbex Jr., Thiago Domenici, Maurício Torres, Paulo Barbosa, Wagner Nabuco, Sérgio de Souza.
TRECHO 1 - Natália Viana - Pedro Simon - O pessoal do Dops era assim também. Quando prendiam, começavam assim: “Onde é que nasceu? Onde passou a infância?...”. Palmério Dória - Mas aqui não tem pau-de-arara, é mais tranqüilo.Nós, o velho MDB, lutamos muito para não ter pau-de-arara. O PT ganhou um país sem pau-de-arara. Quer dizer, hoje temos um regime de plenitude democrática no que tange ao Judiciário, ao Legislativo e ao Executivo, mas no social continua no tempo do pau-de-arara. Pior do que antes, inclusive. Wagner Nabuco - O PMDB é parte desse governo, não é?Vou te dizer que me considero MDB. Sempre falo na tribuna do Senado: “O meu MDB”. Wagner Nabuco - Pelo fato de o PMDB ser um “Frankenstein”, como o senhor se sente mantendo essa sua coerência histórica?Mantenho minha coerência histórica desde que comecei no grêmio estudantil do curso secundário. Uma coerência muito feliz porque eu, quando jovem, conheci o Alberto Pasqualini – o pensamento dele é uma coisa fantástica. Ele pregava as idéias que se discutem hoje no mundo, sessenta anos depois: o fracasso do comunismo, o equívoco total do capitalismo. Nosso grupo de estudantes ia na casa dele duas vezes por semana. Das 8 da noite até tarde. No campo das idéias, fui numa linha reta, me impregnei tanto das idéias dele, que não titubeei. Agora, os comunistas não gostavam. Diziam que o Pasqualini era um “capitalista fantasiado”. Ele dizia que os meios de produção ficam na propriedade privada, mas ela tem uma responsabilidade social que é obrigada a cumprir. Ele pregava que todo trabalhador tinha direito a educação, a uma casa, a um rádio, a coisas que não havia em 1946 lá no interior. Mas era contra o socialismo, achava que o socialismo dava a igualdade, mas não dava a liberdade. Eu me impregnei daquelas idéias e me criei naquela cidade, nasci em Caxias. Meu pai e minha mãe vieram do Líbano. Vieram direto, sou “puro-sangue”, minha irmã mais velha também é libanesa. Caxias é uma terra de colonização italiana. É um legítimo exemplo de como poderia ser feita a reforma agrária dando certo. Vieram primeiro os alemães, depois os italianos, e ali eles plasmaram uma civilização que é hoje uma cidade como Caxias, a mais importante do Rio Grande do Sul. No meio dessa colonização italiana, eu e os patrícios libaneses nos criamos. Tenho mesclados sangue árabe, colonização italiana e Brasil. Minha família era simples. Estudei no Colégio Nossa Senhora do Carmo, depois meu pai se mudou para Porto Alegre, estudei no Rosário, fui para a Pontifícia Universidade Católica, depois voltei a Caxias para lecionar na universidade, fui vereador em Caxias...
TRECHO2 - José Arbex Jr. - Como o senhor avalia o primeiro Getúlio, o Estado Novo, a ditadura? O Getúlio era um fazendeiro, classe dominante. A Revolução de 1930 saiu porque São Paulo quis impor um candidato e era a vez de Minas Gerais. O “café-com-leite” vinha funcionando e ninguém tinha condições de dizer nada. E ali era a vez de o governador de Minas Gerais sair candidato a presidente da República, mas o Júlio Prestes resolve dizer: “Não, vai ser São Paulo de novo”. Getúlio, nessa época, era governador do Rio Grande do Sul. E aí, junto com Osvaldo Aranha, Flores da Cunha, Brochado da Rocha, começou a fazer a costura Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraíba. Os outros não estavam levando a sério, nem São Paulo, nem Rio, nem nada. Mas o negócio foi crescendo e, surpreendentemente, ganhou. A revolução ganhou e Getúlio assumiu, mas o Getúlio que assumiu era o que estava naquele Brasil que ele representava. Não tinha nada de diferente. O que quero dizer é o seguinte: o Getúlio não era que nem o Pasqualini. Se tivesse sido, já tinha toda uma doutrina social, toda uma filosofia, mas não, Getúlio estava dentro do movimento e naquele movimento surgiu uma brecha e ele entrou e ganhou. Começou governando desse jeito. Depois, dentro do contexto mundial, nazismo de um lado, fascismo do outro lado, comunismo do outro, aqui no Brasil, os comunistas com o Prestes e os integralistas com o Plínio Salgado, ele começou a forjar as grandes transformações. Pegou um Brasil colônia, porque o Brasil de 1930 não tinha nada que ver com o Brasil de 1945. Ele pensou na Federação, na União. Foi o grande homem da história do Brasil, não há como deixar de reconhecer. Palmério Dória - O Samuel Wainer disse que ele foi o “inventor do Brasil moderno”. É isso? Eu acho que sim. Uma coisa até impressionante, porque ele não era um homem de grandes viagens. Eu aconselho vocês a lerem, se não leram ainda, o discurso de formatura dele, que está nas memórias que a filha escreveu. Não dá para acreditar que um guri de 22 anos fosse tão agnóstico, tão fino e tão frio, com um sentimento tão impressionante como ele. Palmério Dória - Como o senhor avalia o que disse o Fernando Henrique, que a grande tarefa dele como estadista seria acabar com a “era Vargas”, o “entulho getulista”?Acho que ele já deve estar pedindo para esquecerem. Não tem significado nenhum. Não teve no Brasil um homem com a cultura, a história, a competência, a biografia do Fernando Henrique. Até o fato de ele ser filho de general. Foi uma formação burguesa, mas, mesmo assim, ele se identificou com a esquerda, com os problemas. Agora, eu era líder do Itamar e me esforcei para que ele não fosse presidente, porque tinha um erro histórico ali. O Itamar até falava em Fernando Henrique, em Pedro Simon e em Antônio Britto. Eu fui defender o Britto, porque não podia defender meu nome. O Britto não foi candidato a presidente porque ficou com medo do Quércia, que era candidato na convenção. Mas não tinha nenhuma dúvida, eu dizia, o Itamar dizia, o Fernando Henrique dizia, nós, com o apoio do Michel Temer, ganhávamos a convenção. O próprio Quércia retirava. Mas o Britto era candidato a governador do Rio Grande do Sul e não topou. Aí que entrou o Fernando Henrique e se consolidou. Daí eu cobrei do Itamar: “Itamar, tudo bem, vamos ver como é que vai ser”. E defendi que o vice devia ser o governador de Minas, que estava no PTB…
TRECHO 3- José Arbex Jr. - Não vi uma intervenção sua no Senado contra a Monsanto por ela ter feito contrabando de semente transgênica no Brasil, contrariando a Constituição. Não vi ninguém no Senado dizer que não é qualquer empresa transnacional que vai obrigar o governo brasileiro a botar uma medida provisória que autoriza a produção de transgênico, contra o que diz a Constituição. Não vi dizerem que os executivos dela que promoveram esse contrabando tem que pôr na cadeia. Não, o Brasil vai e dá um prêmio pra eles, autoriza a plantação e a Embrapa diz que é uma questão técnica. Você não ouviu esse discurso nem de mim nem de ninguém. No Rio Grande do Sul, a questão ficou muito complicada. Quando você diz “é contra a lei, prende”, pouca gente soube da lei. Isso não é bem assim, você fala com uma tranqüilidade que eu, do outro lado... José Arbex Jr. - Mas por que acabou assim?Porque a lei não é cumprida. O Brasil é um país de leis para não serem cumpridas, é o país da impunidade. Só vai para a cadeia ladrão de galinha, se não é ladrão de galinha, tem um bom advogado e não vai para a cadeia. E não é só aqui. Sérgio de Souza - Esse quadro está mudando ou continua o mesmo? Está piorando. No sentido de que antes tínhamos uma expectativa fantástica, que era o Lula. Na história do Brasil não houve fato nenhum, comparado à vitória do Lula, que alimentasse tanto a esperança da sociedade. Vou dizer mais: acho que na história do mundo não houve. É muito difícil. De repente, um partido bem devagarinho… parecia impossível, partido dos trabalhadores, o que é isso? Ou morre ou se aburguesa. José Arbex Jr. - Senador, pra encerrar o capítulo dos transgênicos, eu queria saber como o senhor se sente sabendo que o Senado aprovou uma CPI para investigar o MST, mas não uma CPI para investigar a Monsanto. Mas estão investigando o MST?
TRECHO 4 - Sérgio de Souza - Os discursos do senhor são todos apaixonados. Mas não me considero oposição ao Lula, me considero independente, rezo pelo Lula todos os dias. Nas minhas orações estão o Lula e o governo dele. Thiago Domenici - E o senhor pede o que nas orações?Que Deus permita que o Lula faça no governo dele 30 por cento do que prometeu, que já seria uma boa coisa. Natalia Viana - Heloísa Helena disse em entrevista pra gente que o Lula faz o que quer, ela tem muito clara essa impressão. Já o senhor acha que não. O que acontece?Sou fã da Heloísa Helena, até disse pro PT: vocês vão fazer bobagem, vão criar um Teotônio de saia. Ela é brilhante, tem alma, tem sentimento, o PT não agiu bem com ela.
TRECHO 5 - Wagner Nabuco - Dizer pro banqueiro: “Ó, você ia receber 10 amanhã, mas só vai receber 7...”.É isso aí. “Porque, se eu ficar mais um ano assim, tu não vai receber nada.” O cara entende isso também: “Porque eu, Lula, que entrei aqui com um prestígio espetacular, se eu este ano te pagar 180 milhões e o brasileiro continuar na miséria, pode acontecer uma convulsão social no Brasil, e vocês não vão receber nada”. Sérgio de Souza - O senhor está prevendo uma mexida na democracia formal, está fazendo esse alerta?Não digo na democracia, mas tenho temor do que pode acontecer no campo eleitoral, no campo político. Wagner Nabuco - O país voltar a ser dirigido por forças mais à direita? Pode ser. Wagner Nabuco - Essa é uma preocupação?É uma preocupação.
TRECHO 6 - Natalia Viana - Vou fazer uma pergunta que tem a ver com a minha pouca idade… Quando leio ou ouço falar as histórias políticas da época de Getúlio, de Jango etc., me parece que naquela época a política era muito mais divertida. Um presidente bêbado que renuncia de repente, um jornalista que diz que o vice não pode assumir, um governador que monta uma cadeia de rádio para fazer longos discursos – e é ouvido apaixonadamente pelo povo… O que mudou? Já não se fazem mais políticos como antigamente?Tu chama de diversão e eu chamo de tragédia. O Brasil já experimentou de tudo. Tivemos em 1937 o Estado Novo; tivemos a deposição do Getúlio, que, não aceitando a pressão para renunciar, se suicidou; tivemos o Jânio Quadros, um homem que tinha a expectativa de toda a nação e terminou renunciando; tivemos a junta militar impedindo que o Jango assumisse; tivemos a legalidade do Brizola, que levantou o Brasil inteiro e permitiu a posse do Jango; tivemos em 1964 a deposição do Jango e uma junta militar que ficou aí um tempão enorme; restabelecida a democracia, se elege um presidente que comete um sem-número de bobagens e é deposto num impeachment do Congresso Nacional; elegemos presidente da República um intelectual, parecia que seria uma maravilha, e deu no que deu; agora temos um líder sindical que era da confiança de toda a nação, mas, na verdade, está muito longe de ser o que a gente esperava. Agora, se for mal e o PSDB, o PFL, imaginam que o Fernando Henrique volta, não volta. O que me assusta, volto a repetir, é o que ainda falta pro Brasil: eleger um candidato com fanatismo religioso. É o que aconteceu com o Bush. Alcoólatra inveterado, se curou ninguém sabe como, e ele diz que Deus o curou. E curou pra ele ser presidente da República. Disse isso em toda a primeira campanha: “Eu era um alcoólatra, um homem perdido. E Deus me curou, e se Deus me curou foi pra eu salvar os Estados Unidos”. Eu já estou vendo gente falando isso aí. Já tem candidato falando que Deus o está mandando. Eu não sei se daqui a pouco isso pega e vamos experimentar um outro tipo que Brasília ainda não conheceu. Por isso, vamos torcer pra que o governo do Lula dê certo. Vamos torcer pra que ele encontre o verdadeiro caminho, o caminho das suas idéias, o caminho da sua luta, o caminho do que ele representa, o nordestino que venceu, chegou à presidência da República. Ele não pode se deslumbrar com um avião bacana, com os tapetes, com as festas, com os elogios baratos... Tu termina se adaptando àquela realidade, e acha que aquela realidade é o mundo. Brasília é a Ilha da Fantasia. Porque a gente, principalmente o Lula, entra em contato com os empresários, os funcionários públicos, normalmente os mais bem aquinhoados, o pessoal das multinacionais de automóvel, da Petrobrás, do Banco do Brasil... E a gente vive um mundo e termina num faz-de-conta do mundo que está do outro lado.
"As ruas, turvadas em outros tempos por nuvens de pólvora e de gás, devem ser ocupadas, de novo, por ventos da decência, da ética e das melhores referências"

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